sexta-feira, maio 22, 2009

Prosa (incorrigido)

Sentidos estupefatos na ponta dos dedos. Questiono a metáfora. Faço uma pausa no poema, e transformo em prosa. Risco linhas, traços. Busco o desenho perfeito, ludico, concreto. Como se me conduzisse ouço as palavras fluirem. Reviso e reviso, e nem uma palavra sai de minha boca, não escrevo nada, não desenho. Mas passo um crivo severo em tudo que sai, e palavras nascem se conectam e logo são riscadas, desaparecem. Inicio novo texto e volto atrás, apago, jogo fora, desisto. Vou tomar café ou coisa que o valha. O poeta cético nunca dá por acabado seu escrito, nunca admira sua obra e geralmente só escapam da morte os papéis esquecidos em gavetas. É como o deus Cronos a devorar seus filhos antes dos céus terem cores. 
É, em verdade como um camponês que ceiva a terra, prepara, escolhe sementes e depois as lança. E depois, se torna enxurrada que carrega tudo, sementes, folhas e barro. É isto mas sem a paixão, sem o furor.